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05 de December de 2016

Cigarro aumenta mutações nas células do pulmão e risco de câncer

Indivíduos que fumam um maço de cigarros por dia sofrem cerca de 150 mutações diárias a mais em células pulmonares do que aqueles que não fumam. Na prática, isso significa que o tabagismo danifica o DNA em órgãos diretamente expostos à fumaça, aumentando o risco de desenvolvimento de tumores malignos. É o que afirma uma pesquisa norte-americana divulgada pela revista Science, uma das publicações científicas mais importantes do mundo.

 

“As mutações podem levar a alterações nos genes relacionados à divisão celular, causando a perda de controle dessa função pelo organismo e, consequentemente, criando células com capacidade de proliferação e invasão, características que definem as chamadas células malignas”, explica o oncologista do Hospital Santa Lúcia, Eduardo Vissotto.

 

A mutação celular é um fenômeno natural e ocorre em todos os indivíduos. Todavia, existem sistemas de reparo do organismo para manter o seu funcionamento sob controle. Quando o número de mutações aumenta muito, como acontece no caso dos fumantes, a probabilidade de o corpo não conseguir controlá-las é maior e, consequentemente, aumentam as chances de desenvolvimento de cânceres.

 

Além das 150 alterações a mais nas células dos pulmões, a pesquisa observou 97 mutações a mais na laringe, 39 na faringe, 23 na boca, 18 na bexiga e seis em todas as células do fígado. Pela primeira vez, foi possível não apenas observar, mas também quantificar as alterações moleculares causadas pelo cigarro no DNA.

 

CÂNCER DE PULMÃO – O cigarro possui dezenas de componentes cancerígenos que agridem diretamente o DNA das células normais do epitélio pulmonar, causando mutações que se somam e provocam o desenvolvimento do câncer de pulmão, o terceiro mais comum de todos os tumores malignos.

 

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o aparecimento da doença tem aumentado em 2% por ano em todo o mundo, e 80% dos casos estão relacionados ao tabagismo. A detecção precoce de qualquer doença é determinante para o sucesso do seu tratamento. No caso do câncer de pulmão, os números impressionam: em estágios iniciais, a cura pode ser superior a 90%; já em pacientes com tumores avançados, a recuperação plena é inferior a 10%.

 

“Pessoas a partir de 55 anos e com histórico importante de tabagismo podem fazer a tomografia computadorizada de baixa dosagem, que muitas vezes consegue detectar nódulos malignos em fase inicial de desenvolvimento, permitindo aos profissionais oferecer tratamentos potencialmente curativos”, destaca o especialista Eduardo Vissotto.

 

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO – Segundo o médico, em estágio avançado, o câncer de pulmão é, muitas vezes, incurável. A tomografia de tórax é o exame indicado para a detecção precoce do câncer de pulmão em pessoas acima de 55 anos e com consumo de tabaco maior que 30 maços/ano.

 

O exame deve ser realizado anualmente, desde que não haja achados anormais. Se forem identificados nódulos pulmonares suspeitos, deve-se proceder a uma biópsia para confirmar a sua natureza. Caso sejam malignos, o tratamento deve ser iniciado o quanto antes e pode envolver cirurgia, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e terapia-alvo, isoladas ou combinadas, a depender da classificação e estadiamento da doença.

 

O perigo, contudo, não se restringe aos tabagistas. “Uma pessoa que convive diariamente com um fumante, inalando a fumaça do cigarro, apresenta risco de desenvolver câncer de pulmão até 30% maior do que a população em geral, e ele é cumulativo: quanto maior o tempo de exposição passiva ao cigarro, maiores as chances da pessoa desenvolver câncer de pulmão”, alerta Eduardo Vissotto.