Voltar
Compartilhe:
28 de September de 2015

Sua Saúde Entrevista: Dr. Gustavo Paludetto

Uma evolução no tratamento do aneurisma da aorta — maior artéria do corpo humano — diminuiu os riscos da intervenção e a possibilidade de sequelas para o paciente, trazendo mais segurança ao procedimento e melhores chances de recuperação. Na entrevista a seguir, o cirurgião endovascular Gustavo Paludetto explica as novidades sobre o assunto.

 

1) O que é aneurisma da aorta e quais suas principais causas?

A aorta é a maior artéria de nosso corpo e dela se originam os ramos que irrigam todos os tecidos, desde os que levam sangue ao cérebro e às vísceras, até os que irrigam os membros inferiores. Os aneurismas são dilatações segmentares que envolvem uma ou mais porções da aorta. Estas dilatações se comportam como uma ‘bolha em uma mangueira’. Habitualmente, os aneurismas fusiformes maiores que 5 cm de diâmetro ou os que cresceram mais de 5 mm em 6 meses devem ser tratados, pois o risco de ruptura é elevado.

 

Entre os principais fatores de risco para este tipo de aneurisma estão o tabagismo, a obstrução de artérias (aterosclerose), a hipertensão e altas taxas de colesterol. Indivíduos a partir dos 50 anos e com histórico familiar também estão no grupo de risco para a doença.

 

2) Quais os riscos quando ele atinge a aorta?

 

Ao se formarem placas de gordura nas paredes da aorta, ela se dilata como uma bolha, formando um aneurisma. Se a doença acomete a região dos órgãos vitais (intestino, fígado, rins e medula), tem-se o aneurisma toracoabdominal, que pode levar à morte. A principal complicação do aneurisma não tratado é a ruptura, que provoca imediato sangramento (hemorragia interna) no tórax ou abdome, com taxa de mortalidade elevada.

 

3) Como prevenir?

 

Evitar os fatores de risco, como a obesidade e o sedentarismo, mantendo a prática regular de atividades físicas associadas a uma
alimentação rica em frutas e verduras, é fundamental. Não fumar, consumir bebidas alcoólicas moderadamente e evitar a ingestão excessiva de produtos industrializados também são atitudes importantes. Desta forma, podemos evitar o aneurisma e, mesmo em caso de pacientes que já tiveram a doença, é possível evitar a reincidência.

 

4) Quais as novidades do tratamento mais recente? Que vantagens ele traz?

 

Um novo tratamento percutâneo de aneurisma da aorta toracoabdominal, pouco invasivo, insere um tubo (stent) pela virilha até o aneurisma para isolá-lo da corrente sanguínea. Desta forma, a mortalidade cai para 3% e o tempo de cirurgia para 4 horas. Não se paralisa mais a circulação e a recuperação do paciente é mais rápida.

 

A técnica surgiu há dez anos e é guiada por imagens em 3D e um cateter inserido na virilha é levado até a área a ser tratada. Com o isolamento do aneurisma, a tendência é a redução
de seu volume e normalização da saúde do paciente.

 

5) Como se dá a preparação para a cirurgia?

 

São quatro passos importantes. Iniciamos com uma tomografia detalhada para fabricação do stent sob medida que se adeque à
anatomia do paciente. Esta tomografia segue para um laboratório fora do Brasil, onde o stent será produzido de acordo com as condições anatômicas do indivíduo. A maior atenção está concentrada nos orifícios (fenestras) que são projetados no tubo para que a circulação sanguínea continue normal, mesmo durante o procedimento.

 

A colocação destes orifícios no lugar correto permite que todos os vasos mantenham a circulação normal, reduzindo os problemas
e efeitos colaterais no pós-operatório. É uma obra de engenharia que leva quatro semanas para ficar pronta. O trabalho todo só termina depois do monitoramento dos resultados.

 

6) Como funcionava o tratamento tradicional? Que riscos ele trazia ao paciente?

 

A cirurgia convencional dura mais de 6 horas e exige a abertura do tórax até o abdome. É preciso paralisar a circulação sanguínea para substituir a aorta doente. O risco de paraplegia pode chegar a 20% e o de morte a 12%, ou seja, os riscos no tratamento novo são muito menores. Mas, após a cirurgia, é fundamental adotar medidas preventivas idênticas às recomendadas como prevenção ao infarto: dieta saudável e exercícios físicos.