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12 de April de 2019

Afinal, ganhar peso durante a gravidez é necessário e saudável?

O ganho de peso é um tema recorrente entre as mulheres que estão grávidas ou pretendem engravidar. Devo ganhar peso? O quanto é saudável? Será que vou conseguir emagrecer após dar à luz? Se eu engordar muito, meu bebê será prejudicado? Minha saúde ficará comprometida?

Para ajudar a esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto, convidamos a ginecologista e obstetra do Hospital Santa Lúcia, Bruna Pitaluga, para um bate-papo. Leia a entrevista para saber mais e compartilhe conhecimento.

1 – Quais os principais mitos e verdades sobre o ganho de peso na gravidez?

Acredito que o principal mito é que a mulher necessita ganhar peso para ter uma gestação saudável. A principal verdade é que elas devem acompanhar esse fator em toda consulta de pré-natal.

2 – Quantos quilos é o ideal ganhar durante a gestação? Por quê?

Primeiro devemos entender que o peso é uma unidade absoluta e não infere sobre a saúde metabólica propriamente dita na gestação. O melhor parâmetro seria a avaliação da composição corporal por meio da bioimpedância ou densitometria por dupla emissão de raios X (DEXA). Todavia, em geral a gestante não é submetida a esses exames por falta de protocolos e, no caso da DEXA, por ser um exame com radiação.

Logo, o ganho de peso se transforma em um parâmetro de acompanhamento durante esse período. Com a epidemia de obesidade e sobrepeso, as mulheres devem começar a gestação com índice de massa corpórea (IMC) entre 18,5 e 24,9, segundo as recomendações do Colégio Americano de Obstetrícia.

As recomendações de ganho de peso materno se dividem em quatro categorias, avaliado o IMC. São elas: baixo peso (IMC < 18,5), peso normal (IMC de 18,6 a 24,9), sobrepeso (IMC de 25 a 29,9) e obesidade (IMC > = a 30). O ganho de peso também se relaciona a essas categorias de IMC, sendo que mulheres com baixo peso devem ter um ganho entre 12,5-18, kg; de IMC normal, entre 11-16 kg; IMC sobrepeso entre 7-11,5 kg; e mulheres com IMC para obesidade devem ganhar entre 5-9 kg.

Além desse parâmetro, o ganho ponderal (ganho de peso na balança) é avaliado durante as semanas, sendo considerado de acordo com o IMC também. Mulheres são avaliadas do segundo ao terceiro trimestre e estima-se um ganho semanal para as que estavam em baixo peso de 500 g por semana; normal, 400 g por semana; sobrepeso, 300 g por semana; e obesidade, 200 g por semana.

3 – Esses valores de referência servem para todas as gestantes?

Não. Esses valores são gerais e não substituem a avaliação individualizada da equipe que acompanha a gestante. Não é incomum encontrarmos gestantes com discreto sobrepeso, ganho de peso de 10 kg na gestação e o bebê estar com sinais de alterações metabólicas como aumento do líquido amniótico, da circunferência abdominal e da proporção da circunferência cefálica e abdominal, avaliados por ecografia/ultrassonografia gestacional. Hoje, os parâmetros fetais (do bebê) são tão importantes no acompanhamento quanto os parâmetros maternos.

4 – Qual a importância do ganho de peso para a saúde da mãe e do bebê?

O ganho de peso deve ser proporcional e bem distribuído ao longo da gestação. Os bebês pesam até 28 semanas de gestação, em média, 1 kg, mas terminam a gestação com 3,200 kg. O ganho ponderal deve acompanhar o metabolismo materno e fetal em cada trimestre de gestação. Uma mulher que ganha dois quilos em um mês na 24ª semana, mesmo que ganhe 12 kg ao final da gestação, se não receber as recomendações dietéticas adequadas corre o risco de desenvolver diabetes gestacional, por exemplo.

5 – O que pode ocorrer com a mãe quando ela não ganha o peso necessário? E com o bebê?

Acredito que o bebê, nesse contexto, seja o melhor parâmetro para avaliação de algum risco ou doença. Muitas mães sabem que, mesmo ganhando peso, podem ter bebês pequenos e vice-versa. Acreditamos, hoje, que o ganho ponderal materno fala a respeito do ambiente metabólico dentro do útero para o bebê. As mães com baixo peso devem avaliar o crescimento dos bebês para saber se existe restrição no aporte de nutrientes pela placenta. E tentar entender a causa desse “não ganhar peso” é fundamental para o tratamento e acompanhamento adequado.

6 – O que pode ocorrer com a mãe quando ela ganha peso acima do indicado? E com o bebê?

Quando ganha mais peso que o indicado, a mãe cria um ambiente metabólico inapropriado para o bebê, com aumento da oferta de carboidratos simples e da resistência à insulina. O que isso representa? Que essas mães têm mais chances de desenvolver diabetes gestacional, hipertensão na gestação, parto prematuro, rotura prematura de membranas, descolamento prematuro de placenta e aumento de líquido amniótico (polidrâmnio).

Os seus bebês, que podem ser grandes ou pequenos para a idade gestacional, acabam necessitando de mais dias de internação hospitalar e ficam na UTI com mais frequência que os filhos de mães que ganharam o peso esperado na gestação. Com os estudos de programação metabólica, sabe-se que esses bebês possuem uma série de eventos adversos desde o nascimento até a vida adulta, como o risco aumentado para diabetes tipo 2 e câncer.

7 – Como a mãe deve agir durante a gravidez para controlar o seu peso?

O ideal é que o casal se programe para a gestação seis meses antes. O homem também deve se preocupar com peso e cada vez mais trabalhos mostram o risco de pais obesos para desenvolver doenças crônico-degenerativas.

Nessa preparação, os pais devem ter o hábito da atividade física regular, ingestão adequada de nutrientes, com reeducação alimentar na grande maioria dos casos, controle de estresse e hábitos do sono. A esse processo chamamos programação fetal (ou programação metabólica-fetal), no qual tenta-se reduzir ao máximo as variáveis que possam interferir negativamente na gestação, dentre elas o ganho de peso materno.

Se isso acontece antes da gestação, os pais já firmaram na sua rotina hábitos saudáveis e minimizam o estresse de controle de peso durante a gestação. A prática de atividade física deve ser recomendada para todas as gestantes, salvo quando existe alguma alteração clínica que a impeça.

8 – Que tipo de acompanhamento médico é necessário?

A equipe de acompanhamento deve ser multidisciplinar, com obstetra, nutricionista e preparador físico que compreendam a dinâmica da gestação, os seus trimestres e as demandas de cada etapa dos nove meses em que a mulher estará grávida.

9 – Como lidar com as recomendações e dicas de amigos, familiares etc.?

As recomendações são inevitáveis, afinal o bebê faz parte do contexto familiar e todos procuram o melhor para a saúde da mãe. No entanto, uma mulher com bom acompanhamento obstétrico, que se sente segura em relação à equipe que lhe acompanha, saberá lidar com muita calma com as opiniões não profissionais.