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13 de July de 2014

Com novos medicamentos, imunoterapia potencializa efeitos do tratamento contra câncer

Imunoterapia é a estimulação do sistema imunológico por meio de medicamentos. Embora já seja conhecida há 50 anos e utilizada no tratamento de câncer, ela foi classificada como Avanço do Ano, em 2013, pela revista científica Science, devido ao desenvolvimento de novos medicamentos que têm obtido resultados animadores em estudos clínicos. “O sistema imunológico tem checkpoints, ou barreiras, que evitam o ataque às células normais do corpo, mas que podem ser driblados pelas células cancerosas. O tratamento de imunoterapia age nessas barreiras, melhorando sua resposta e potencializando o combate aos tumores”, detalha a oncologista clínica Luiza Dib, do Hospital Santa Lúcia. Esse tipo de terapia começou a apresentar resultados mais satisfatórios recentemente, à medida que avançou o conhecimento dos cientistas sobre o sistema imunológico. No Brasil, uma das principais aplicações da imunoterapia é no tratamento do melanoma, mas ela também é utilizada em pacientes com linfomas, leucemias, câncer de mama, de bexiga, de próstata e tumores colorretais, entre outros.

 

 

No tratamento do melanoma – um tipo de câncer com alto risco de produzir metástases e com altas taxas de mortalidade nos estágios mais avançados –, a novidade é a utilização do ipilimumabe, um anticorpo monoclonal disponível no país há pouco mais de um ano, que aumenta a capacidade de resposta do sistema imunológico às células cancerosas. “Os estudos mostram que ele ajuda a reduzir o risco de morte em aproximadamente 30%, o que é bastante significativo”, avalia a oncologista. “A imunoterapia traz um benefício a longo prazo, representado por um platô nas curvas de sobrevida em três anos, ou seja, uma estabilidade na ocorrência de óbitos”, acrescenta.

 

 

Antes da chegada do ipilimumabe, o tratamento do melanoma em estágios mais avançados já lançava mão de imunomoduladores como a Interleucina 2 – uma proteína do sistema imunológico envolvida na ativação dos linfócitos e na indução da divisão de grupos específicos de células de defesa – e o Interferon – outra proteína produzida pelo sistema imunológico em resposta à ameaça de agentes como vírus, bactérias, parasitas e tumores. O Interferon também é utilizado no tratamento da leucemia.

 

 

Outro exemplo do uso da imunoterapia no combate ao câncer é a infusão de BCG (bacilo Calmette-Guérin) na bexiga para contenção de tumores superficiais. Ele provoca uma inflamação do órgão, o que atrai células de defesa responsáveis por combater proteínas anormais. Os tumores superficiais podem ser controlados temporariamente com este tratamento, possivelmente evitando cirurgias. De acordo com a Dra Luiza Dib, a imunoterapia não exige exames adicionais aos que já são normalmente realizados antes do início da quimioterapia. “O que avaliamos nos pacientes potencialmente elegíveis é o estadiamento do câncer e a comprovação clínica de eficácia do medicamento a ser utilizado”, afirma.

 

 

Uma promessa no campo da imunoterapia, já aprovada nos Estados Unidos mas ainda não disponível no Brasil, é o Sipuleucel-T, uma vacina contra o câncer de próstata, que estimula o sistema imunológico a atacar as células cancerígenas. Essa vacina é produzida individualmente, com a retirada de células brancas do sangue do paciente, que são expostas a uma proteína das células cancerosas de próstata e depois devolvidas ao organismo por infusão numa veia. A partir disso, elas induzem outras células do sistema imunológico a atacar o tumor. Quando administrada em homens com doença avançada que já não responde à terapia hormonal, a vacina aumenta a sobrevida. Estudos estão em andamento para verificar se ela pode ajudar homens com câncer de próstata em estágios menos avançados.

 

 

Além dos imunomoduladores, os medicamentos produzidos a partir de anticorpos monoclonais também têm sido utilizados no tratamento de tumores, apesar de sua atuação ser diferente. É o caso, por exemplo, do Rituximabe no tratamento de linfomas e leucemias, do Trastuzumabe para o câncer de mama e de estômago, e do Bevacizumabe para o tratamento de tumor colorretal. Este último age, entre outras maneiras, como um anticorpo, evitando a formação de novos vasos sanguíneos e fazendo com que o aporte de sangue para o tumor seja reduzido.

 

 

Apesar dos resultados animadores da imunoterapia, a oncologista frisa que sua indicação deve ser muito criteriosa, já que são medicamentos de alto custo e com efeitos colaterais importantes. “Entre os efeitos adversos mais comuns estão diarreia, hepatite, febre, rash cutâneo, prurido e fadiga”, enumera. “O tratamento com interleucina em altas doses também pode ser associado à depressão”, alerta.