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28 de March de 2019

Como envelhecer de forma sustentável e com qualidade de vida?

Como envelhecer de forma sustentável e com qualidade de vida?

A expectativa de vida dos brasileiros tem subido constantemente ao longo das últimas décadas. Em 1990, nós vivíamos uma média de 66,34 anos. Já no ano 2000, esse número chegou a 70,14 anos. Dez anos depois, o tempo médio de vida no Brasil era de 73,84 e, em 2016, a população do país vivia 75,51 anos, segundo o Banco Mundial. No ano de 2017, o IBGE afirmou que o tempo médio de vida dos homens brasileiros chegava a 72 anos e 5 meses, enquanto o das mulheres era ainda maior: 79 anos e 4 meses.

Nesse contexto, uma pergunta tem se tornado imprescindível: como viver mais sem perder qualidade de vida? Para falar sobre esse assunto, convidamos a médica geriatra do Hospital Santa Lúcia, Priscila Mussi.

1 – O que é envelhecimento sustentável e o que fazer para chegar à melhor idade com boa qualidade de vida?

Envelhecimento sustentável é um modelo flexível de levar a vida com felicidade, significado, gratidão pelo que se tem e desprendimento para falecer bem. É um conceito composto de quatro partes: uma boa base econômico-financeira, preservação da capacidade cognitiva, saúde física e propósito.

Esse conceito surgiu para alertar os jovens que temos que pensar e fazer metas para quando envelhecermos, desejar envelhecer bem em todos os aspectos e buscar isso em todas as fases da vida.

2 – Que aspectos e decisões sobre a vida mais impactam, de forma geral, a qualidade desse envelhecimento sustentável?

Algumas questões bem objetivas são muito importantes, como praticar atividade física regular, não fumar e controlar os excessos, como o consumo de álcool e alimentos industrializados, embutidos, gordurosos, fritos etc. Além disso, há que se ter fé, não necessariamente religiosa, mas voltada à crença de que as coisas darão certo, um pensamento otimista sobre a vida, além de ter objetivos que ultrapassem as conquistas materiais e tragam sentido e propósito à existência do indivíduo.

3 – O que é preciso considerar em cada uma das fases da vida para contribuir para um envelhecimento sustentável?

Quando jovens, devemos pensar no que queremos para o nosso envelhecimento. Por exemplo: quero ficar só com meus netos, curtindo? Quero me manter trabalhando? Quero viajar o mundo? Aprender balé, música e outras línguas? Essas decisões pessoais precisam ser tomadas ao longo da vida e buscadas em todas as suas etapas.

4 – Em alguns lugares do mundo, as pessoas vivem muito mais que outras – as chamadas blue zones. Quando esse conceito surgiu e como?

As blue zones são diferentes regiões espalhadas pelo mundo onde as pessoas têm uma maior longevidade e melhor qualidade de vida. Apesar de diferentes entre si e terem culturas diversas, nessas localidades muitos indivíduos têm uma vida além dos 100 anos com muita saúde, felicidade e longe de doenças tão presentes no cenário atual. São lugares onde o estilo de vida é extraordinário e pessoas de mais de 105 anos parecem ter 70.

Alguns desses locais são a província de Nuoro, na Sardenha (Itália), a ilha de Ikaria, na Grécia, Okinawa, no Japão, a península de Nicoya, na Costa Rica, e a aldeia de Loma Linda, no sul da Califórnia. Essas regiões receberam esse nome após estudos realizados desde 2004 em locais onde há uma forte relação entre a longevidade e a baixa incidência de doenças crônicas. Duas cidades no Brasil têm sido estudadas por terem características que as aproximam das regiões descritas: Veranópolis, no Rio Grande do Sul, e Maués, na Amazônia.

6 – Que características são mais comuns a essas áreas? Em tese, por que nelas as pessoas vivem mais e melhor?

Suas populações apresentam pontos em comum, incluindo uma dieta muito próxima do modelo mediterrâneo, atividade física diária e uma atitude positiva em relação à vida. Surpreendentemente, não há relatos de que a longevidade esteja relacionada a intervenções médicas específicas. Há alguns fatores comuns nessas áreas que podemos aprender:

– Estar em movimento, ou seja, fazer atividades como caminhadas, jardinagem, dança.

– Desacelerar, diminuir o nível de estresse.

– Ter um propósito de vida, algo que deseja e pelo qual precisa batalhar.

– Alimentar-se de forma moderada, sem excessos.

– Manter uma dieta rica em alimentos vegetais integrais: frutas, cereais, leguminosas, tofu, oleaginosas e sementes.

– Ingerir de uma a duas taças de vinho por dia, na companhia de amigos.

– Manter a fé e, se possível, cuidados espirituais e religiosidade.

– Valorizar a família e as amizades, manter encontros regulares com essas pessoas e falar de assuntos amenos, evitando temas como trabalho, por exemplo.

7 – Como o Santa Lúcia está preparado atualmente para atender a pessoas da melhor idade?

No Hospital Santa Lúcia temos o Programa 60+ para garantir atendimento especial aos idosos. Essa iniciativa conta com atendimento diferenciado, desde a emergência até a alta hospitalar. Associado ao Time Zero, esse Programa propõe um conceito de cuidado diferenciado, em que uma equipe multiprofissional oferece atendimento integral ao paciente.

Essa equipe é composta por médico geriatra, enfermeiro, fisioterapeutas, dentistas, fonoaudiólogos, psicólogos, farmacêuticos e nutricionistas que realizam visita diária e posteriormente uma reunião multidisciplinar para discutir os melhores tratamentos e cuidados necessários para uma alta segura, com melhora clínica e conforto para o paciente e sua família.