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29 de May de 2019

Como o estresse provocado pela falta de trabalho — ou o excesso dele — prejudica a sua saúde

É cada vez mais frequente a chegada à emergência hospitalar de pacientes com queixas que podem indicar problemas graves de saúde — doenças cardiovasculares, por exemplo —, mas cuja investigação clínica e por meio de exames laboratoriais e de imagem não confirma a suspeita. Em casos assim, é comum que a origem dos sintomas seja o estresse.

O excesso trabalho ou a tensão causada pela falta dele são, sem dúvida, algumas das principais razões para a elevação dos níveis diários de estresse na atualidade. Quando alterado por muito tempo, esse estresse pode dar início a uma cascata de doenças mentais e físicas.

Segundo o IBGE, em todo o país, são 13,4 milhões de pessoas sem emprego. Desse total, 25% está há pelo menos dois anos em busca de uma nova vaga e boa parte tem cada vez menos esperança de encontrar. No primeiro trimestre deste ano, o Distrito Federal esteve no 11º lugar na taxa de desocupação do país, com 14,1%.

A frustração e o esgotamento provocados por essa situação podem ser tão perigosos para a saúde quanto o excesso de trabalho. Isso porque a sensação de não cumprimento das tarefas e o desgaste físico demasiado para dar conta de tudo também elevam intensamente os níveis de estresse e podem acarretar diversos transtornos de saúde.

Para saber mais sobre o assunto e de que maneira prevenir tais complicações, conversamos com Luciano Lourenço, médico pós-graduado em medicina intensiva e coordenador geral da Emergência do Hospital Santa Lúcia Sul. Leia a entrevista e compartilhe conhecimento!

1 – Como os efeitos do estresse no trabalho podem prejudicar a saúde?

Uma vez que o nível de cobrança é maior do que o saudável — ou seja, quando a necessidade de produzir é maior do que um ser humano comum é capaz de realizar —, você começa a sair do trabalho sem se desligar dele. Consequentemente, para gerar os resultados exigidos, você se alimenta e se hidrata mal. Já em casa, preocupado com as demandas, acaba não tendo um sono regenerativo. Para quem busca emprego, a sensação é similar, porque a falta de perspectiva e a incerteza quanto ao futuro trazem as mesmas consequências, na medida em que também fazem com que a pessoa diminua os cuidados com a própria saúde e não consiga descansar quando tenta.

2 – E mais especificamente a saúde física?

É muito comum os pacientes com altos níveis de estresse se referirem a dores generalizadas — de cabeça, na coluna cervical, na lombar. Geralmente estão com o abdômen distendido porque se alimentam mal, as evacuações não acontecem nos momentos em que deveriam acontecer. Associado a isso, apresentam tremores nas extremidades, visão turva. Quando a exposição a esse tipo de situação permanece por um longo período, há maior risco de desenvolver hipertensão arterial, diabetes, fibromialgia e distúrbios na tireoide, entre outros.

3 – O estresse é um grande catalisador para o surgimento de doenças psicológicas. Quais as principais? Por quê?

Em geral, as doenças psicológicas têm uma sequência. Quando alguém é submetido a um estresse muito alto no trabalho ou está muito pressionado para conseguir uma colocação no mercado, o primeiro sintoma, a primeira doença psicológica que surge, é a ansiedade. Quando ela se instala e o seu nível é alto, o paciente pode ter crises de pânico em decorrência de uma avaliação distorcida do que está à sua volta, o que provoca a sensação de risco de morte. Muitas vezes, este ambiente é criado porque, devido ao acúmulo de estresse, o indivíduo perde a capacidade de avaliar o cenário. Em última instância, é possível desenvolver depressão, um quadro de tristeza que influencia a vida pessoal e profissional por mais de seis meses. A depressão maior provoca queda na autoestima, na perspectiva positiva de futuro, levando ao afastamento de situações sociais e assim por diante.

4 – De forma prática, de que modo as pessoas podem lidar melhor com esse estresse e aliviar suas consequências?

Nosso organismo precisa de cuidados mínimos para funcionar. Devemos entender que, independente do ambiente em que estejamos, é indispensável manter um nível de hidratação regular, para que a urina tenha coloração mais clara; uma alimentação bem distribuída, com horários e escolha de alimentos saudáveis, naturais, ricos em fibras e nutrientes; um padrão de atividade física leve ou moderada pelo menos 5 vezes por semana; e sono regenerativo.

No caso do sono, em especial, é preciso manter distância da luz azul dos smartphones e TVs, que estimula o centro responsável pelo adormecimento. E aí, mesmo estando muito cansado, fica difícil dormir. A dica é: uma hora antes do horário que pretende ir para a cama, interrompa seu contato com aparelhos emissores de luz azul (televisores, tablets, smartphones e computadores) e tente fazer alguma atividade mais relaxante, como ler ou meditar.

5 – Como identificar a hora de procurar orientação médica ou tratamento?

Se o seu rendimento está abaixo do que seria normal para você, o que conseguia fazer com certa facilidade se torna mais difícil ou quando identifica que sua capacidade de concentração está desequilibrada. Estar atento a essas questões é fundamental.

Além disso, outro sinal de alerta é a qualidade do relacionamento com familiares, amigos e colegas de trabalho (quando for o caso). Se essas relações passam a ser desinteressantes, tensas ou difíceis, é hora de procurar ajuda. Isso sem mencionar os sintomas físicos dos quais falamos anteriormente.

6 – De que forma o Santa Lúcia está preparado para lidar com pacientes em quem o estresse desencadeia problemas de saúde?

A Emergência do Santa Lúcia é extremamente capacitada para, de forma rápida, descartar as origens perigosas de sintomas que também podem ser sinais de estresse — dores de cabeça, no corpo, abdômen distendido e outros. Ou seja, temos total condição de verificar se esses sinais estão ou não associados a origens mais urgentes e perigosas e, quando não estão, proceder a investigação da relação deles com fatores como o estresse.

Uma avaliação clínica bem-feita já é o suficiente para identificar isso na maioria dos pacientes. Para os que necessitam de exames laboratoriais ou de imagem, podemos realizá-los de forma rápida e deixá-los à disposição do profissional da Emergência para avaliação.