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26 de June de 2018

Nutrição inadequada é a segunda maior causa prevenível de câncer

Uma dieta pobre em verduras, legumes e frutas e rica em gorduras de origem animal, produtos industrializados, açúcar e sal está relacionada à maior incidência geral de câncer. Segundo o médico nutrólogo do Hospital Santa Lúcia Sul, Allan Ferreira, a má alimentação é responsável por até 20% dos casos de câncer nos países em desenvolvimento, como o Brasil.

“No caso do câncer gástrico, por exemplo, o consumo de alimentos ricos em nitritos/ nitratos, como carnes vermelhas e embutidos — linguiça, salame e salsicha —, está relacionado à gênese da doença. Dietas pobres em fibras têm relação direta com câncer de cólon e o consumo de alimentos com aflatoxinas — produzidas por fungos — tem relação com câncer de fígado”, explica o especialista.

Evidências científicas comprovam que os benefícios da ingestão de frutas, legumes e verduras na prevenção do câncer são maiores do que os malefícios do consumo desses alimentos com resíduos de agrotóxicos. Entretanto, optar por alimentos de base agroecológica ou orgânicos é sempre o ideal.

“Nos vegetais são encontrados vitaminas, minerais, fibras e fitoquímicos que previnem diversos tipos de câncer. Se não for possível adquiri-los em sua forma de produção orgânica, ainda assim não podemos abrir mão desses alimentos protetores, pois estudos indicam que a redução no seu consumo pode aumentar consideravelmente o número de casos de câncer”, detalha Allan Ferreira.

“Vale lembrar que resíduos de agrotóxicos podem também estar presentes em alimentos ultraprocessados, como biscoitos, salgadinhos, pães, lasanhas e pizza, que contêm ingredientes como trigo, milho, cana-de-açúcar e soja, por exemplo”, alerta.

Carboidratos e Açúcares

Alimentos ricos em açúcar e carboidratos, assim como a falta da prática de atividade física, aumentam a resistência à insulina, hormônio secretado pelo pâncreas com importante função no metabolismo dos carboidratos no sangue.

“Essa resistência favorece o acúmulo de gordura corporal, que provoca alterações hormonais e um estado inflamatório crônico. Tais condições estimulam a proliferação celular, inibem a morte programada das células e contribuem para a formação e a progressão de diversos tipos de câncer, como os de esôfago, estômago, pâncreas, vesícula biliar, fígado, intestino, rins, mama, ovário, endométrio, tireoide e, possivelmente, próstata”, ressalta o nutrólogo.

Carnes Vermelhas X Vegetarianismo

Carnes vermelhas ou processadas são causas convincentes ou prováveis de alguns tipos de câncer, em especial os do trato gastrointestinal. Apesar disso, a carne vermelha é rica em nutrientes como proteínas, ferro, zinco e vitamina B12. Então, o que é melhor? Abrir mão desse alimento ou ingeri-lo?

“Estudos observacionais mostram que vegetarianos têm menor incidência de câncer, mas como estes indivíduos costumam ter hábitos de vida mais saudáveis (não bebem, não fumam e praticam atividade física), não se pode estabelecer ainda a relação direta entre um e outro. Por isso, a orientação é o consumo moderado de carne vermelha. O importante é encontrar o equilíbrio”, pondera o Allan Ferreira.

Suplementação vitamínica

Cada vez mais comum na dieta dos brasileiros, a ingestão de suplementos alimentares vitamínicos também pode favorecer o desenvolvimento de tumores malignos e, embora alguns estudos em grupos específicos tenham mostrado evidências de prevenção de câncer a partir da ingestão de alguns desses, tais achados podem não ser aplicáveis à população em geral.

“Os níveis de benefícios deles podem ser diferentes e pode haver efeitos adversos. Em geral, a ingestão inadequada de nutrientes se resolve melhor com uma alimentação balanceada e não por meios de suplementos, já que eles não aumentam o consumo de outros componentes alimentares potencialmente benéficos”, recomenda o médico.

A alimentação no tratamento do câncer

O câncer é uma das doenças que mais mata em todo o mundo — cerca de 12 milhões de pessoas são diagnosticadas todos os anos e, destas, cerca de 8 milhões morrem. Suprir as necessidades nutricionais de forma adequada pode fazer a diferença entre o fracasso e o sucesso do tratamento.

Uma alimentação correta pode auxiliar na diminuição do número de óbitos porque impacta diretamente tanto para amenizar os efeitos do câncer no organismo quanto dos tratamentos para combatê-lo, a exemplo da quimioterapia e da radioterapia, que podem causar perda do paladar, anorexia, náuseas, vômitos, fadiga e distúrbios intestinais.

O organismo de um paciente com câncer gasta mais calorias e a doença provoca alterações metabólicas significativas. A resistência periférica à ação da insulina e a alteração na sensibilidade das células beta do pâncreas à liberação desta substância — responsável por ajudar as células do seu corpo a transformar a glicose em energia — estão entre as mais importantes.

Há ainda alterações no metabolismo dos ácidos graxos — produzidos quando as gorduras são quebradas — e das proteínas. Tudo isso leva o paciente à perda maciça de músculo esquelético que, se não tratada precocemente, pode evoluir para um estado de desnutrição e, mais tarde, para a caquexia, síndrome complexa causada por diversos fatores que se caracteriza pela perda de peso, com predominante perda de massa corpórea e tecido adiposo.

O que fazer

Não existe receita alimentar mágica de sucesso para o tratamento. Alguns tipos de câncer, como os de cabeça e pescoço ou do trato gastrointestinal, demandam um cuidado ainda maior com a alimentação, que pode chegar ao uso de suplementos e outras terapias, a depender da necessidade do paciente.

Mas há alimentos proibidos? A questão ainda é polêmica e precisa ser melhor investigada pela comunidade científica. Por enquanto, a principal recomendação é que o paciente evite alimentos perigosos para o fígado, órgão responsável por metabolizar as drogas utilizadas no tratamento.

Fazem parte dessa lista alimentos gordurosos, enlatados, com muitos conservantes ou corantes, bebidas alcoólicas e frituras — mesmo as feitas em óleo de canola ou azeite.

Texto publicado originalmente na 2ª edição da Revista Santa Saúde. Para conferir todas a matérias da revista, clique aqui.