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21 de October de 2013

Sua Saúde Entrevista: Aterosclerose

As doenças cardiovasculares são responsáveis por 30% das mortes globais, sendo a principal causa de óbito em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). De modo geral, a base dos problemas cardiovasculares é a aterosclerose, doença provocada pelo colesterol alto e que se caracteriza pela formação de gordura na parede dos vasos sanguíneos.

Em entrevista à revista Sua Saúde, o cardiologista Fausto Stauffer fala sobre as mudanças nos padrões alimentares do brasileiro, os riscos do colesterol alto para a saúde do coração e a importância do check-up cardiológico

 

  1. Qual a recomendação atual da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) quanto ao consumo diário de gordura?

As recomendações da SBC são baseadas no Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde. O limite máximo de gorduras é de 15% a 30% das calorias totais da alimentação diária. O total de gorduras saturadas deve ser menor que 10% das calorias totais; já o de gordura trans, menor que 1%. Estes valores podem obtidos nos rótulos dos alimentos, que conforme regulamentação da Anvisa devem conter as informações nutricionais de valor energético (calorias), carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, gordura trans, fibra alimentar, cálcio, ferro e sódio.

 

  1. O quanto, em média, o brasileiro tem extrapolado isso?

O padrão dietético do brasileiro vem se modificando nas últimas duas décadas, com aumento do consumo de gordura saturada, açúcar e alimentos com baixo teor de fibras. Quanto maior a renda mensal, maior é o consumo de gorduras saturadas (10,6%) e menor o de frutas (2%), verduras e legumes (0,8%) na alimentação.

 

  1. Mesmo com acesso mais facilitado à informação, divulgação constante da mídia em geral sobre os cuidados com a saúde e dicas de alimentação, o índice de doenças cardiovasculares causadas em parte pelo aumento do colesterol continua crescendo. A que o senhor atribui esse fato?

Ao estilo de vida da população em geral, cada vez mais sedentário, combinado aos maus hábitos alimentares. Os alimentos saudáveis têm sido substituídos pelos produtos industrializados, com baixo teor nutritivo e com altas quantidades de açúcar e gorduras. Isso fica evidente quando observamos que nos últimos 34 anos as prevalências de sobrepeso e obesidade aumentaram de 2 a 4 vezes. 

 

  1. Qual a relação entre gordura e risco cardiovascular?

O consumo excessivo de gordura contribui para a elevação do colesterol, que, por sua vez, favorece a formação da placa de ateroma (gordura) na parede dos vasos sanguíneos, podendo desencadear doenças como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral. Uma dieta alimentar inadequada e sedentarismo podem causar, ainda, diabetes, obesidade e pressão alta, fatores de risco para doenças cardiovasculares.

Recentemente, foi publicada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia uma diretriz sobre consumo de gorduras e risco cardiovascular e um ponto importante foi sobre o uso da gordura trans, muito utilizada em produtos industrializados. Este tipo de gordura é formado por processo que transforma óleos vegetais líquidos em gordura sólida à temperatura ambiente. Seu consumo relaciona-se fortemente com as doenças cardiovasculares, pois diminui o colesterol HDL (bom) e aumenta o colesterol LDL (ruim). Esse desequilíbrio acarreta a formação das placas de gordura na parede dos vasos sanguíneos. A gordura trans aumenta também a resistência à ação da insulina, elevando a glicose e o risco de diabetes.

 

  1. Quais exames identificam o índice de colesterol no organismo?

O índice de colesterol é determinado através de um exame do sangue coletado após jejum de 12 horas. São identificados os valores de colesterol total, LDL (colesterol ruim), HDL (colesterol bom) e triglicerídeos. Os valores ideais de cada fração dependem do risco cardiovascular, faixa etária e sexo. Como regra geral, o colesterol total deve ser menor que 200mg/dL, o LDL menor que 130mg/dL, o HDL maior que 40mg/dL e o triglicerídeo menor que 150mg/dL.

 

  1. Quais métodos de diagnóstico da aterosclerose, doença provocada pelo colesterol alto?

A aterosclerose é o processo de formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos. Existem diversos métodos utilizados para sua detecção precoce, que vão desde exames de sangue (dosagem de proteína C reativa) até exames de imagem (ultrassonografia com doppler, angiotomografia, angiorressonância, escore de cálcio coronariano). Sabe-se que os indivíduos com processo de aterosclerose possuem um risco cardiovascular mais elevado e sua detecção precoce é importante para a prevenção das doenças cardiovasculares.

 

  1. O que pode ser feito quando a dieta não é suficiente para tratar o colesterol?

Existem medicamentos para tratamento do colesterol elevado (dislipidemia). As estatinas, em especial, reduzem a ocorrência de doenças cardiovasculares tanto em pessoas que não apresentam sintomas como naquelas que já são portadoras.

 

  1. Qual a periodicidade recomendada para se fazer um check-up com cardiologista?

Não existe uma regra específica quanto à periodicidade de um check-up cardiológico, pois depende do histórico e da condição de cada indivíduo. Porém, é recomendado fazer um check-up inicial antes da realização de exercícios físicos, ao completar 40 anos de idade e no caso de sintomas cardiovasculares. Dependendo dos fatores riscos identificados, será definida a periodicidade de retorno, que costuma ser anual na maioria dos casos.